Varela e a ciência
Nos primeiros minutos de Monte Grande: What is life? (2004), Francisco Varela discute ciência, conhecimento e sabedoria em um registro de 1984:
O modo que você faz seus bolinhos [madalenas], o modo de pendurar seus quadros, o modo de escolher suas gravatas e o modo de anotar seus compromissos na agenda: são todos a expressão de algum tipo de harmonia unificadora. Esta sabedoria é algo que se deve cultivar e aprender.
Eu sinto ou vejo a sabedoria societal sob a mesma perspectiva. Se cultivarmos sabedoria, então o que quer que façamos como sociedade tem a mesma qualidade. A arte que fazemos, a ciência que fazemos, as ruas que construímos, estradas que projetamos e os jardins que temos terão a mesma qualidade.
Dentro deste contexto harmônico, não vejo a ciência sendo especial. É uma coisa que acabamos fazendo como seres humanos. É um belo ofício, que pode ser harmônico ou desastroso.
Precisamos distinguir conhecimento de sabedoria. A ciência é uma forma de conhecimento. Arte é outra forma, mágica é outra forma etc.
Por outro lado, só há uma sabedoria, que é baseada no amor.
Além dos inúmeros paralelos com o trabalho mais recente de Humberto Maturana, há similaridades relevantes com a qualidade sem nome proposta por Alexander.
Estas ressonâncias são ótimas e nada mais cibernético que (re)conhecer o (re)conhecido — "o caminhar faz a trilha", disse Varela.